Nunca é simples ajudar alguém que sofre. Todas as vezes que preciso acalmar um coração triste – seja por dores físicas ou da alma. Encontrar as palavras certas é uma tarefa difícil.
Mas e quando é você que sofre? Quem se importa?
Vivemos apressados. Falta-nos tempo para tudo. E gente que traz consigo feridas provocadas por experiências mal-sucedidas representa-nos um peso. Não queremos ouvir. Bastam-nos os nossos próprios males.
Nosso tempo é para o trabalho. E para o prazer. A vida passa ligeiro e queremos curtir tudo intensamente. O sofrimento do outro angustia e parece nos fazer desperdiçar tempo.
Talvez por isso, quando é a gente que sofre, a impressão que dá é que todos estão ocupados demais.
E não é uma impressão. Estamos sim ocupados demais. Ocupados com nossos próprios desejos, sonhos… problemas.
Quem está disposto a ouvir, abraçar… raramente percebe a dimensão de sua atitude. Só outro sabe o que esse gesto representa.
E sabe por quê? Porque a dor que mais dói é aquela que você está sentindo aqui e agora. Quem se dispõe a ajudar não dá conta disso porque não está vivendo a dor do outro. E cada pessoa sente a vida de uma maneira completamente diferente. Às vezes, olhamos pro sujeito e logo dizemos:
- Está sofrendo por causa disso? Ah, mas eu já passei por isso, por aquilo…
E desfilamos uma série de argumentos que justificariam tudo, mas que não servem para tirar do outro o peso do seu sofrimento.
Entretanto, aprendi ao longo da vida que poucas coisas são tão significativas quanto ser ouvido quando a alma chora. Ter com quem conversar, encontrar alguém disposto a dar um abraço e que seja capaz de falar as palavras certas é mais que uma demonstração de amizade. É daqueles gestos nobres, que tocam profundamente e que nunca esquecemos.
Acho que ser amigo é um pouco isso: ser capaz de se doar a quem sofre. É fácil demonstrar amizade quando temos motivos para comemorar (nas festas da vida, é gostoso abraçar todo mundo, rir junto). Difícil é se deixar envolver pela dor do outro e permitir que sua vida ajude a fazer a vida do outro ter algum sentido.